por Julieta El-Khouri
Enquanto o Senado Federal aprova a cota social, "o social", em São Paulo, já está entrando em ação. Em reunião realizada no canteiro de Obras do Estádio Itaquerão, estudantes e famílias ameaçadas de despejo por causa das obras da Copa 2014 manifestavam sua indignação com os valores aviltantes gastos nas reformas, cuja recursos, em sua maioria, têm origem pública, apesar da Copa ser um evento privado.
Alunos da Fatec e Unifesp também estiveram presentes e reivindicaram que parte desses recursos sejam investidos em educação.
Acompanhe.
Brasil de Fato - 09/08/2012
Aula pública no Itaquerão cobra faculdades na zona leste e denuncia remoções
Embora a Copa seja um evento privado, a maior parte dos investimentos é estatal e conta com recursos do BNDES
Jorge Américo,
De São Paulo, da Radioagência NP
Manifestantes protestam em frente ao futuro estádio - Foto: Jorge Américo |
Estudantes e professores do cursinho comunitário da UNEafro Brasil no bairro de Itaquera, Zona Leste de São Paulo (SP), manifestaram apoio às famílias ameaçadas de despejo no entorno do futuro estádio do Corinthians. Eles também cobraram investimentos do Estado em educação. No último sábado (5), foram realizados uma aula pública e um protesto em frente ao canteiro de obras do “Itaquerão”. O local é cotado para sediar a abertura da Copa 2014.
O desrespeito aos direitos dos brasileiros – formalizado com a Lei Geral da Copa – foi tema central dos debates, que contou com a participação do Coletivo de Comunidades Unidas da Zona Leste. Embora a Copa seja um evento privado, a maior parte dos investimentos é estatal e conta com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A última estimativa do Tribunal de Contas da União (TCU) prevê que os estádios e obras complementares custarão no mínimo R$ 27,5 bilhões.
FATEC E Unifesp
Manifestantes pedem investimentos em educação - Foto: Jorge Américo |
Os manifestantes sugerem que parte dos recursos públicos para a Copa seja investida em projetos que beneficiem a juventude. Entre eles, a Faculdade de Tecnologia (FATEC) e o campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na Zona Leste paulistana. Ambas são promessas que os governos estadual e federal ainda não cumpriram. O estudante Paulo Martins de França, 18, defende medidas preventivas para que as novas vagas no ensino superior sejam ocupadas por quem vive na Zona Leste.
“Essas universidades ao serem abertas já devem começar com cotas, tanto sociais como raciais. É muito importante que o espaço seja ocupado pelos próprios moradores da região e não por pessoas de bairros mais ricos. Isso já facilita bastante o acesso para quem não teve tanta oportunidade de estudo.”
O prédio que abrigará a FATEC está em fase de construção, ao lado do estádio. A unidade ainda não foi inaugurada, mas realizou vestibular no meio do ano para o preenchimento de vagas no segundo semestre.
Já a Unifesp é uma reivindicação antiga de organizações sociais e comunidades religiosas. O Ministério da Educação anunciou o interesse em expandir a universidade e a Prefeitura de São Paulo se comprometeu a doar um terreno de 175 mil m², localizado na Avenida Jacú-Pêssego, em Itaquera.
Recentemente, a compra foi suspensa pelo Ministério Público Estadual, que considerou abusivo o preço de R$ 62 milhões pedido pelo proprietário. A situação permanece indefinida.
Comunidade da Paz
Terminada a manifestação junto ao Itaquerão, os integrantes do cursinho fizeram uma visita à Comunidade da Paz – que está na rota das remoções de outras obras para a Copa. Lá conversaram com moradores sobre as dificuldades enfrentadas no dia a dia, como a falta de água e energia elétrica.
Cícero Jailson Ponciano da Silva, que possui um pequeno comércio no local, relatou que até o momento ninguém foi comunicado oficialmente.
“A gente soube por meio de jornal e da televisão. De concreto, o poder público ainda não falou nada pra gente. Como não tem expectativa para aonde a gente vai, fica aquela apreensão, sempre pensando no que vai acontecer porque não tem proposta nenhuma.”
Aproximadamente 300 famílias vivem na Comunidade da Paz, que começou a ser ocupada há pelo menos 20 anos. A vila está situada a menos de um quilômetro de distância do futuro estádio, avaliado em R$ 820 milhões.
Jailson, que vive na vila desde o seu surgimento, cobra respeito dos órgãos públicos em relação aos moradores.
Comunidade da Paz - Foto: Jorge Américo |
“Esperamos ser tratados como cidadãos que pagam impostos. Apesar de viver na favela, ninguém está aqui porque quer ou porque gosta, mas por falta de oportunidades. Então, espero que eles olhem pra gente por essas condições e deem moradia, que troquem moradia por moradia, e deem condições melhores para que a gente possa viver melhor em outro lugar sem precisar construir outra favela.”
Moradia digna
Além do Itaquerão, a região receberá diversas obras de infraestrutura, como a ampliação de avenidas, uma rodoviária e vias de acesso às estações de trem do Metrô e da CPTM. Ainda está prevista a inauguração de um parque linear. A Prefeitura e o Governo do estado gastarão R$ 478 milhões com esses empreendimentos.
Oficialmente, nenhuma família foi comunicada sobre possíveis remoções, mas levantamento dos movimentos de moradia identificou pelo menos cinco mil famílias vivendo nos trechos afetados.
Segundo Irene Maestro Guimarães, da coordenação do cursinho da UNEafro, foi essa insegurança que motivou o envolvimento dos estudantes na luta por moradia digna.
“Não basta achar errado a Copa do Mundo gastar dinheiro público para remover pessoas e construir obras que não servem às demandas dos trabalhadores. Então, abrir diálogo com essas pessoas faz com que os alunos vejam as possibilidades que eles têm de uma atuação para fora da sala de aula. Uma possibilidade de organização para atuar em torno dessas questões que eles têm se deparado, que são os problemas do bairro.”
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