por Julieta El-Khouri
Policarpo Junior, o jornalista que se utilizou da revista Veja e fez uso de sua profissão para simular um flagrante de grampo contra um deputado, não foi convocado para depor na CPI do Cachoeira, ontem. Em mais uma manobra feita pelo PMDB, mais um acusado está escapando dos trabalhos da CPI, ajudando, cada vez mais, a transformar os trabalhos da Comissão em pizza.
Já era de se esperar. Em tempo de eleições, tudo o que eles menos querem é que o eleitor seja esclarecido. Imagine o baque que o PMDB sofreria nas eleições municipais, se todos os envolvidos no escândalo fossem convocados? Quantos Prefeitos eles deixariam de eleger?
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Política - Carta Capital - 14/08/2012
Cachoeiroduto
14.08.2012 15:22
Com apoio do PMDB, CPI barra convocação de Policarpo Jr.
Um acordo articulado por parlamentares do PMDB barrou nesta terça-feira 14 a
convocação do jornalista Policarpo Júnior, diretor da revista Veja em
Brasília, para falar à CPI do Cachoeira. Dois requerimentos estavam prontos para
serem apresentados na reunião – um do senador Fernando Collor (PTB-AL) e outro
do deputado Doutor Rosinha (PT-PR).
Com o apoio dos peemedebistas, a comissão, no entanto, priorizou outros
requerimentos apresentados durante o encontro – como a reconvocação do bicheiro
e a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônicos de Andressa Mendonça,
mulher do contraventor. A cúpula da polícia de Goiás – delegada-geral da Polícia
Civil do estadp, Adriana Sauthier Accorsi, e o comandate-geral da Polícia
Miltar, Edson Costa Araújo – também foram convocados.
A manobra irritou o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), para
quem a comissão tem a obrigação de convocar o jornalista, “que usou sua
profissão e a revista para se aliar ao crime organizado e prejudicar seus alvos,
como o deputado Jovair Arantes [PTB-GO]”. Tatto se referia às
revelações, feitas por CartaCapital, de que Policarpo Jr. foi flagrado
pela Polícia Federal “encomendando” um grampo sobre o deputado da base
governista.
“Tenho fé que essa comissão vai convocá-lo, para que explique sua relação com
o crime organizado, com Carlinhos Cachoeira, com o ex-senador Demóstenes.
Portanto, espero com muita paciência. Espero que nós não tenhamos medo. Tivemos
coragem de convocar senadores. Espero que não tenhamos medo de convocar um
jornalista, ou melhor, um pseudojornalista”, disse o deputado.
O líder do PT afirmou que a convocação não é um atentado contra a liberdade
de imprensa. “Trata-se de convocar um senhor que começa a envergonhar a
categoria dos jornalistas.”
O senador Fernando Collor (PTB-AL), autor do requerimento de convocação de
Policarpo, também reclamou da não convocação do jornalista, a quem se referiu
como “bandido”, e seus “asseclas”, os repórteres Rodrigo Rangel e Gustavo
Ribeiro.
Collor disse que o procurador Alexandre Camanho – segundo ele, o braço
direito do procurador-geral da República, Roberto Gurgel – levou dois
procuradores ao encontro dos dois jornalistas da revista Veja em 12 de
março para entregar os inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo, sob segredo
de justiça. “Vejam a gravidade desse fato. Essa revista é um coito de bandidos,
comandada por seu chefe maior, Roberto Civitta”, disse .
O deputado Dr. Rosinha (PT-PR), que também apresentou
requerimento de convocação de Policarpo, disse esperar a votação dessa
convocação na próxima reunião administrativa da comissão. Segundo ele, já está
provado que algumas ações do jornalista são criminosas, como a do Hotel Naoum,
quando Cachoeira montou um esquema para vigiar, ilegalmente, as movimentações do
ex-ministro José Dirceu no local.
Ele disse que não é verdadeira a alegação do jornalista de que usava
integrantes da organização criminosa como fonte de informação. “Já passou
disso”, afirmou, citando gravação em que o jornalista supostamente pede a
Cachoeira que grampeie o deputado Jovair Arantes. “Não é proteção da mídia, mas
de um cidadão suspeito de ações criminosas. Ele tem que ser investigado”,
disse.
Dr. Rosinha também defendeu a quebra dos sigilos bancário, telefônico e
fiscal do jornalista.
O deputado Miro Teixeira (PDT-MG) disse que a convocação de Policarpo faz
parte de uma intimidação da imprensa. “Quando vejo o líder do PT assumindo um
discurso de restrição, de coação ao exercício à profissão de jornalista, me
sinto no dever de falar. Estamos falando de um grande partido”, afirmou. Para
Teixeira, as palavras de Tatto são de atemorizar. “É assim que começam os
estados policiais.”
Segundo ele, o Brasil está se preparando para ser uma Argentina ao coagir os
profissionais do jornal Clarín. “Querem correr atrás de quem grita pega
ladrão ao invés de pegar o ladrão”, reclamou.
Já os requerimentos para a convocação dos deputados federais Carlos Alberto
Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO) provocaram debates entre os
parlamentares. A princípio, os dois seriam convocados, mas um acordo
possibilitou a retirada do pedido de convocação de Sandes Júnior, substituindo-o
por um pedido de informações. O deputado deve ter que explicar doações feitas
pelo laboratório Midway para sua campanha nas eleições de 2010. O dinheiro,
conforme investigação da Polícia Federal, teria origem em empresas fantasmas
ligadas a Cachoeira.
Carlos Leréia, por sua vez, não será mais convocado, mas convidado a depor.
Um dos argumentos para a mudança da condição é de que ele já se dispôs a prestar
esclarecimentos à CPI. Atualmente, o deputado responde a processo administrativo
no Conselho de Ética da Câmara.
O deputado Sílvio Costa (PTB-PE) protestou contra as alterações aprovadas:
“Estamos tratando iguais de forma desigual. Ou convocamos os dois ou não
convocamos ninguém”.
Sub-relatorias
A proposta de criação de sub-relatorias foi rejeitada por 16 votos a 4. Os
parlamentares da oposição foram os principais defensores da mudança, na
tentativa, sem sucesso, de descentralizar as ações, atualmente conduzidas por
apenas um relator.
“Diante da complexidade deste esquema criminoso, seria mais ágil, prático e
racional a criação de sub-relatorias”, argumentou o deputado Rubens Bueno
(PPS-PR).
Mais de 250 requerimentos não foram colocados em votação e continuam
aguardando deliberação dos parlamentares.
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