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sexta-feira, 13 de julho de 2012

GENOCÍDIO NA PERIFERIA DE SÃO PAULO

Por: Tamiris K. Bernardino


Há muito tempo que o racismo já deixou de ser somente um distúrbio moral individual.  Chegamos ao ponto em que não há mais como ignorar a profundidade da gravidade dos atos cometidos contra a população negra. Fala-se em igualdade de direitos, em dignidade para os mais pobres, mas na sociedade em que vivemos, não há espaço para altruísmo ou mesmo justiça social. Todos os dias morrem jovens – que lutam por um sonho ou para darem uma vida melhor a seus progenitores – só por serem negros. Apenas por serem vítimas de um estereótipo que faz com que as pessoas olhem uma criança negra e se esquivem com medo de serem roubadas.
Essa situação de tensão se tornou insustentável. Há registros de 127 mortes em apenas 11 dias do mês passado na periferia de São Paulo. Todos negros e pobres. Até quando essa chacina, que chamam de progresso social vai continuar sendo aplaudida? Precisamos entender que violência não se cura com violência. O impasse da segurança pública vai muito além do extermínio de uma população, que 124 anos após a libertação dos escravos permanece à margem da sociedade, cujo consumismo, egoísmo e apatia em relação às reivindicações só crescem. A mudança real terá início quando pararmos de tampar o sol com a peneira e passarmos a encarar o problema com vontade efetiva de solucioná-lo. Veremos reduções nos casos de violência quando os governos pararem de acobertar mortes de inocentes e derem estrutura real no que diz respeito a saúde, educação, moradia, emprego, enfim, o mínimo que qualquer ser humano necessita para sobreviver.
O fato é que é muito mais simples para o governador de São Paulo dar carta branca para policiais militares matarem inocentes na periferia do que fazer uma reurbanização da capital para que TODOS possam morar em locais seguros e salubres. É muito mais fácil para o governador do Rio de Janeiro implantar UPP’s que só servem de objeto para propaganda eleitoral, do que melhorar o ensino nas escolas públicas para que os jovens tenham outra opção de futuro que não seja o tráfico.
Precisamos nos desacostumar a achar que mortes diárias nas favelas poderão trazer algum tipo de benefício para nós. Se conseguirmos abrir os olhos, pararemos de tratar isso como algo corriqueiro e, quem sabe, fazer com que nossos representantes no governo parem de agir segundo seus interesses próprios e passem a fazer o que devem: realizar o que efetivamente resultará em bem comum.


Fonte: Brasil de Fato 

Movimentos protestam contra genocídio na periferia


No mês passado, em apenas 11 dias, 127 pessoas foram assassinadas - em sua maioria, negras e pobres; ato no MASP reuniu cerca de 200 pessoas
12/07/2012
José Francisco Neto
de São Paulo
Com velas e crucifixos nas mãos, cerca de 200 pessoas ligadas a movimentos sociais protestaram nesta quarta-feira (11) contra o genocídio da população negra e pobre de São Paulo, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP), na Avenida Paulista.
O objetivo do ato foi denunciar as chacinas que se intensificaram no mês de junho na capital paulista que, segundo dados do Sistema de Informações Criminais (Infocrim) da Secretaria de Segurança Pública, atingiram 127 assassinatos em apenas 11 dias.
A maioria dessas mortes ocorreu na periferia de São Paulo, em que grupos de extermínio não identificados, mas apontados pelos movimentos de serem ligados à polícia militar, promoveram chacinas que atingiram principalmente a população negra.
Para José Henrique, militante do PSOL, o estereótipo do “bandido” para a polícia é sempre o mesmo: negro e pobre. Segundo ele, com o pretexto de combater o crime organizado, o secretário de segurança pública e o governador do estado dão carta branca para a polícia matar nas periferias.
“Nessa guerra contra os supostos traficantes, a população pobre e negra fica mais vulnerável aos ataques. Se o governo quer acabar com o tráfico, ele tem que acabar onde o dinheiro do tráfico é lavado, ou seja, nas instituições financeiras”, conta.
Segundo o coordenador nacional de relações internacionais do Movimento Negro Unificado, Milton Barbosa, no Brasil há um projeto de genocídio da população negra, que se expressa nas matanças da juventude cometidas por policiais.
“Eu recebi um e-mail que o Alckmin está vendendo 20 mil armas para outros estados, então ele quer vender essa imagem que a segurança é a essência do governo dele, só que baseado nessa repressão, nessa matança. E segurança não é isso. Tem que investir em educação, saúde, moradia, empregos, mas para eles [segurança] é repressão,” argumenta.
Sem fardas, com fardas
Em relação a 2002, a taxa de mortalidade de negros por homicídio no Brasil registrou aumento de 23,4%. A informação faz parte do Mapa da Violência 2012: os novos padrões da violência no Brasil realizado pelo Instituto Sangari e divulgado pelo Ministério da Justiça. Entre 2001 e 2010, o número de vítimas brancas, de 15 a 24 anos, caiu 27,5% (de 18.852 para 13.668), enquanto que de vítimas negras aumentou 23,4% (de 26.952 para 33.264). Ou seja, morrem 139% mais negros do que brancos na faixa dos 15 e 24 anos.
Segundo o militante Givanildo Manoel da Silva (Giva), do Tribunal Popular, o governador Geraldo Alckmin autorizou os policiais militares a atuarem sem fardas, descumprindo, dessa forma, a função da PM. De acordo com Giva, o papel da polícia sem farda é o da polícia civil e jurídica, portanto, são as que cumprem a função investigativa.
“A população não sabe quem são essas pessoas que estão armadas na periferia, ao mesmo tempo, nós não sabemos quem está promovendo esses ataques em decorrência dessa confusão que está sendo criada”, critica.
De acordo com os dados da assessoria de imprensa da polícia militar concedidos ao Brasil de Fato, de janeiro a maio deste ano, 45 assassinatos foram promovidos pelo Comando de Policiamento de Choque, que engloba quatro batalhões, inclusive a Rota (Ronda Ostensiva Tobias Aguiar), o que equivale a 104,5% a mais do que o mesmo período em 2010.
Em relação aos homicídios, o tenente-coronel e chefe da Rota, Salvador Modesto Madia, afirmou na semana passada ao jornal Folha de S. Paulo que “não se importa com números, mas sim, com a legalidade dessas mortes”.
De acordo com o movimento social Rede Dois de Outubro, Madia é responsável por 78 execuções no Massacre do Carandiru, no dia 2 de outubro de 1992, em que a polícia militar realizou uma chacina na qual resultou na morte “oficial” de 111 detentos – além de outras execuções não contabilizadas.
“Com todos os indícios de execução que permeiam esses casos, esse discurso do comandante da Rota é claramente uma conivência (para dizer pouco) com os massacres praticados contra nossa população negra, jovem e pobre”, diz o movimento em nota.
Para Giva, o governador ainda tem muito para explicar, não só dessas mortes, mas também as de maio de 2006. “O governador ainda não explicou o porquê aconteceram aquelas mortes. Não explicou, por exemplo, em que locais que os primeiros policiais que foram mortos estavam. A gente tem informação que eles estavam fazendo segurança de empresas de ônibus de transporte. O governo tem que explicar isso.”



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