Por Julieta El-Khouri
Não bastassem os funcionários fantasmas, temos agora uma nova categoria: o aluno fantasma. Pasmem: são 160 mil matrículas-fantasma. Um absurdo!
A corrupção e roubalheira estão por todos os lados, atingindo níveis absurdos e invadindo todos os setores.
Observe o que faz o Governador (e sua corja) nas escolas estaduais: mantêm alunos-fantasma matriculados para aumentarem o repasse da verba do Governo Federal.
E a “emenda foi pior que o soneto”: o Secretário de Educação, perguntado se o Estado economizou recursos que deixaram de ir pra escola, respondeu: Aumentou o investimento por aluno.
Não é à toa que o gráfico aponta o declínio do Rio: ele está quase na última posição.
Confira você mesmo, na matéria publica no Jornal O Dia.
‘Descobrimos 160 mil alunos matriculados que inexistiam’
POR Eliane Gaglianone Maria Luisa Barros
Rio - Com a difícil missão de tirar o Rio das últimas posições do ensino público, o secretário estadual de Educação, Wilson Risolia, encontrou muitas surpresas no caminho que já percorreu nesse um ano e meio no cargo. Descobriu, por exemplo, que escolas inchavam a folha de matrícula, influenciando diretamente o valor dos recursos que recebiam para merenda e manutenção. Em entrevista exclusiva ao DIA, Risolia revela metas para organizar, administrar e melhorar uma rede que tem pouco mais de 1 milhão de alunos, 91 mil servidores e 1.462 escolas. Com orçamento de R$ 4,2 bilhões, um dos desafios que tem pela frente é reduzir a carência de 60 mil tempos de aulas sem professor. E esse é só um deles.
Risolia é secretário desde outubro de 2010: 'Encontramos 686 turmas com alunos
de 15 anos estudando com colegas de 40 a 84 anos' | Foto: Marcelo Regua / Agência O Dia
de 15 anos estudando com colegas de 40 a 84 anos' | Foto: Marcelo Regua / Agência O Dia
ODIA: Desde o início da sua gestão na Secretaria de Educação, o senhor tem feito pente fino na rede. O que o senhor descobriu?
WILSON RISOLIA: — Descobrimos alunos sem nota no sistema, mas com frequência. Se uma turma começou com 40, voltam 30 provas. Eles abandonaram? Esperamos mais uma avaliação e, de repente, esse aluno ganhava nota e não tinha frequência. Percebemos alguma coisa mais estranha ainda. Esperamos mais um pouco e, em seguida, ele não tem nem uma coisa nem outra. Fomos ver o que estava acontecendo. Deu um trabalho danado. Fizemos inspeção nas escolas. E descobrimos que havia 160 mil alunos que estavam matriculados mas que inexistiam. É importante saber. Foi fruto da limpeza na base de dados. Cruzando informação. Se havia casos de escolas que aumentavam o número de matrículas, era na margem. Prefiro acreditar que era falta de planejamento.
Mas as escolas não recebem verba conforme a quantidade de alunos? Elas receberam verba a mais?
Pode ter acontecido. Tinha gente que não sabia mexer no sistema. Gerir uma escola passa por administração de conflito, gestão orçamentária. Receber dinheiro não é simples. Esse gestor é um profissional que não tínhamos. É o gerente com visão estratégica, mas na rede pública não receberam essa formação. As tecnologias e as famílias mudaram. O profissional tem que ser treinado.
Quanto as escolas recebem por ano para gerir?
No total, R$ 350 milhões para merenda e manutenção.
O estado economizou recursos que deixaram de ir para essas escolas?
Posso falar de outra maneira. O nosso investimento por aluno, que era de R$ 2.700 por ano, subiu para R$ 4.062 no período. É extraordinário. Alocamos os recursos em prol dos que estão de fato na rede. Os alunos estão se alimentando melhor, estudando em escolas com infraestrutura melhor, com parte pedagógica melhor, porque passou a ter o currículo mínimo.
O problema foi corrigido?
Foi. Exoneramos diretores e refizemos nosso cadastro de alunos que atualmente tem 1.045.000 estudantes.
Nessas escolas, havia interferência política, como diretores indicados?
Posso dizer que, quando nós tiramos os diretores, houve uma confusão danada e muita chiadeira.
Com tanta mudança, o senhor sofreu muita pressão?
Havia muita interferência política em todos os níveis. Era verticalizada, de baixo para cima. Isso não é bom. Você precisa ter gente certa no lugar certo. Quando isso ocorre, não é fácil gerir uma rede com esse nível de indicação, da faxineira à merendeira, do adjunto ao diretor geral. Gerir uma pasta envolve muita logística. Não é só a parte pedagógica. Em São Paulo, há uma fundação que cuida de toda a infraestrutura. Aqui você está pensando no ônibus, no transporte rural, em obras, na compra de móvel, uniforme, reforma. E até conteúdo. Para gerir tudo isso, é preciso ter qualificação gerencial. A logística é complicada porque passa pelo orçamento. Comprar o quê, quando e a que preço.
Que outras distorções o senhor encontrou na rede durante o diagnóstico?
Uma discrepância muito grande de idade nas turmas das escolas compartilhadas com o município. Encontramos 686 turmas com alunos de 15 anos estudando com colegas de 40 a 84 anos. E mais outras 546 turmas com estudantes de 16 anos convivendo com alunos de 40 até 87 anos. Não tem como dar certo. Nós mexemos em 6 mil turmas. Extinguimos a que não tinha alunos. Em uma mesma escola, duas turmas tinham quatro alunos. Juntamos oito numa sala só. Havia muitas escolas nessa situação. Melhorou bastante, mas ainda estamos corrigindo.
Isso explica o péssimo desempenho das escolas da Região Metropolitana nas avaliações do MEC?
Não explica tudo, mas explica muita coisa. Aluno sem aula, falta de professores, turmas com essa diferença de idade, 23% da rede ruim ou péssima, ausência de currículo mínimo, de avaliação diagnóstica. Tudo isso junto explica tudo. Vamos sediar uma Olimpíada e não podemos perder o ciclo econômico que a cidade está vivendo. Nós pegamos um estado da Região Sul com bom desempenho no Ideb e fizemos um cálculo. Em quantos anos no ritmo antigo eu chegaria na situação atual deste estado no Ideb? Vinte e dois anos. Sem dúvida, são 22 anos em que não se investiu na Educação do Rio, foram duas gerações de jovens que se perderam.
O Rio pretende ficar entre os cinco primeiros no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) até 2014. Uma meta agressiva. Que posição o Rio terá este ano?
É uma conta que já fizemos, mas não vamos divulgar. Vamos aguardar o resultado do Ideb. Posso dizer que estamos dentro do programado. Para chegar no topo, fizemos um cálculo simples. Qual o esforço que o Rio precisa fazer para sair do penúltimo lugar (à frente apenas do Piauí) e suplantar o crescimento dos outros estados para estar no topo em 2023? Se não tivéssemos feito nada, considerando que os estados vão crescer como vêm crescendo nos próximos anos, o Rio ficaria no último lugar, uma notícia que seria estampada na primeira página. Não queremos isso. Essa curva de longo prazo tem cortes anuais de metas a serem atingidas. Em um ano posso estar em 20º, no outro em 17º, até chegar no alto.
WILSON RISOLIA: — Descobrimos alunos sem nota no sistema, mas com frequência. Se uma turma começou com 40, voltam 30 provas. Eles abandonaram? Esperamos mais uma avaliação e, de repente, esse aluno ganhava nota e não tinha frequência. Percebemos alguma coisa mais estranha ainda. Esperamos mais um pouco e, em seguida, ele não tem nem uma coisa nem outra. Fomos ver o que estava acontecendo. Deu um trabalho danado. Fizemos inspeção nas escolas. E descobrimos que havia 160 mil alunos que estavam matriculados mas que inexistiam. É importante saber. Foi fruto da limpeza na base de dados. Cruzando informação. Se havia casos de escolas que aumentavam o número de matrículas, era na margem. Prefiro acreditar que era falta de planejamento.
Mas as escolas não recebem verba conforme a quantidade de alunos? Elas receberam verba a mais?
Pode ter acontecido. Tinha gente que não sabia mexer no sistema. Gerir uma escola passa por administração de conflito, gestão orçamentária. Receber dinheiro não é simples. Esse gestor é um profissional que não tínhamos. É o gerente com visão estratégica, mas na rede pública não receberam essa formação. As tecnologias e as famílias mudaram. O profissional tem que ser treinado.
Quanto as escolas recebem por ano para gerir?
No total, R$ 350 milhões para merenda e manutenção.
O estado economizou recursos que deixaram de ir para essas escolas?
Posso falar de outra maneira. O nosso investimento por aluno, que era de R$ 2.700 por ano, subiu para R$ 4.062 no período. É extraordinário. Alocamos os recursos em prol dos que estão de fato na rede. Os alunos estão se alimentando melhor, estudando em escolas com infraestrutura melhor, com parte pedagógica melhor, porque passou a ter o currículo mínimo.
O problema foi corrigido?
Foi. Exoneramos diretores e refizemos nosso cadastro de alunos que atualmente tem 1.045.000 estudantes.
Nessas escolas, havia interferência política, como diretores indicados?
Posso dizer que, quando nós tiramos os diretores, houve uma confusão danada e muita chiadeira.
Com tanta mudança, o senhor sofreu muita pressão?
Havia muita interferência política em todos os níveis. Era verticalizada, de baixo para cima. Isso não é bom. Você precisa ter gente certa no lugar certo. Quando isso ocorre, não é fácil gerir uma rede com esse nível de indicação, da faxineira à merendeira, do adjunto ao diretor geral. Gerir uma pasta envolve muita logística. Não é só a parte pedagógica. Em São Paulo, há uma fundação que cuida de toda a infraestrutura. Aqui você está pensando no ônibus, no transporte rural, em obras, na compra de móvel, uniforme, reforma. E até conteúdo. Para gerir tudo isso, é preciso ter qualificação gerencial. A logística é complicada porque passa pelo orçamento. Comprar o quê, quando e a que preço.
Que outras distorções o senhor encontrou na rede durante o diagnóstico?
Uma discrepância muito grande de idade nas turmas das escolas compartilhadas com o município. Encontramos 686 turmas com alunos de 15 anos estudando com colegas de 40 a 84 anos. E mais outras 546 turmas com estudantes de 16 anos convivendo com alunos de 40 até 87 anos. Não tem como dar certo. Nós mexemos em 6 mil turmas. Extinguimos a que não tinha alunos. Em uma mesma escola, duas turmas tinham quatro alunos. Juntamos oito numa sala só. Havia muitas escolas nessa situação. Melhorou bastante, mas ainda estamos corrigindo.
Isso explica o péssimo desempenho das escolas da Região Metropolitana nas avaliações do MEC?
Não explica tudo, mas explica muita coisa. Aluno sem aula, falta de professores, turmas com essa diferença de idade, 23% da rede ruim ou péssima, ausência de currículo mínimo, de avaliação diagnóstica. Tudo isso junto explica tudo. Vamos sediar uma Olimpíada e não podemos perder o ciclo econômico que a cidade está vivendo. Nós pegamos um estado da Região Sul com bom desempenho no Ideb e fizemos um cálculo. Em quantos anos no ritmo antigo eu chegaria na situação atual deste estado no Ideb? Vinte e dois anos. Sem dúvida, são 22 anos em que não se investiu na Educação do Rio, foram duas gerações de jovens que se perderam.
O Rio pretende ficar entre os cinco primeiros no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) até 2014. Uma meta agressiva. Que posição o Rio terá este ano?
É uma conta que já fizemos, mas não vamos divulgar. Vamos aguardar o resultado do Ideb. Posso dizer que estamos dentro do programado. Para chegar no topo, fizemos um cálculo simples. Qual o esforço que o Rio precisa fazer para sair do penúltimo lugar (à frente apenas do Piauí) e suplantar o crescimento dos outros estados para estar no topo em 2023? Se não tivéssemos feito nada, considerando que os estados vão crescer como vêm crescendo nos próximos anos, o Rio ficaria no último lugar, uma notícia que seria estampada na primeira página. Não queremos isso. Essa curva de longo prazo tem cortes anuais de metas a serem atingidas. Em um ano posso estar em 20º, no outro em 17º, até chegar no alto.
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